quarta-feira, 21 de março de 2012

Palavra de honra


Há tempos percebi e não foi assim de repente, foi um processo complexo de raciocínios lógicos dentro da minha cabeça. É sempre assim, começo a pensar e pronto, não paro. Uma maçada. É desgastante às vezes mas cá vai…

Palavra de honra! Há muito tempo que não oiço esse termo dito com alma, dito como quem diz qualquer coisa a sério, que pode ser de facto e sem sombra de dúvida, honrada pela própria palavra dita. Às vezes ainda se aplica um aperto de mão, mas alguém dizer “palavra de honra” tem sido raro, raríssimo, aliás. Ser confrontado por alguém que tem palavra de honra é quase assustador na medida em que implica algo visceral e que tem um peso enorme e acarreta as consequências previstas pela honra. Já a honra em si parece ser um conceito arcaico. Será? Por vezes parece, mas ainda há quem tenha honra nos seus actos, na sua palavra, na sua atitude. Por outro lado parecem malucos, fora do contexto. A sério… se pensarmos bem, quando é que sentimos ter pela frente alguém que honra a palavra? Quantas pessoas conhecemos que não tenhamos qualquer duvida acerca da sua idoneidade?


Terá sido o meu avô Xico que me mostrou pela primeira vez, que me lembre, o que é ter honra e viver nesse pressuposto. Mostrou-me que é possível ser uma pessoa de palavra. Mostrou-me que é possível dizer-se algo de cabeça erguida e não ter qualquer dúvida sobre o que se disse ou diz. Até pode ser uma coisa trivial, corriqueira, mas no entanto quando é dita com honra pela própria pessoa não existem dúvidas. Para quê um documento entre as partes? Porque uma delas ou ambas têm dúvidas acerca delas próprias ou da outra. Então redige-se um documento e pronto fica ali escrito o que não se acredita quando é dito. E isso é muito curioso. Isso por si só demonstra que não obstante poder haver confiança o melhor é deixar escrito. Quando se escreve fica ali, preso, no papel. Quando se diz é projectado para os confins do universo, seja lá o que isso signifique. Parece que no papel há mais honra que na palavra. Ou não?

Vi há dias na televisão, com estes olhos que a terra há-de comer, dois iluminados da justiça da nossa sociedade comentarem que os contractos valem o peso do papel em que são escritos. Fiquei triste. A sério que fiquei. Dito por mim ainda vá, agora por eles… Mas por outro lado tenho sempre a sensação de que entendi muito bem o que aquelas duas sumidades queriam dizer. Grosso modo - nem num contrato escrito se pode confiar. Se pensarmos bem é aterrador quando dito por pessoas que à partida representam a justiça em Portugal. Não direi quem eram mas são sobejamente conhecidos e ultimamente têm vindo muito à televisão. A estupidez não tem limites, credo!

A casa onde habito, por exemplo é propriedade de um cigano. A casa é óptima. Até parece que foi feita à minha medida. Os meus filhos adoram-na e eu tudo faço para que eles se sintam bem quando lá ficam. O cigano e eu temos um acordo - verbal. Por causa não sei bem do quê, ele prefere que eu lhe pague em numerário em vez de depositar no banco. Todos os fins do mês liga-me e aparece para receber a renda da casa. Não há papéis, não há nada. Eu confio nele e ele confia em mim. Eu pago e ele recebe, simples. Acho que a Segurança Social, seja lá o que isso signifique, lhe quer ir à conta. Eu compreendo-o tão bem. Deus me perdoe que não se pode julgar as pessoas pelo fato, mas eu que tenho alguma experiência de vida não acredito em ninguém que trabalhe no governo. E a culpa dessa situação deve-se a essas pessoas que supostamente deveriam defender a nação e os portugueses, mas que só se defendem a elas como se de uma empresa privada se tratasse.

Palavra de honra! Já cheira mal a democracia. Muito mal.

Beijinhos,